CANÇÃO DE OUTONO
Perdoa-me, folha seca,
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.
De que serviu tecer flores
pelas areias do chão,
se havia gente dormindo
sobre o própro coração?
E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando áqueles
que não se levantarão...
Tu és a folha de outono
voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade
- a melhor parte de mim.
Certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão...
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Postado por Lívia Furtado às 18:16 0 comentários
Características dos Poemas de Cecília Meireles
A LINGUAGEM
No plano estilístico – ao contrário do coloquialismo dos poetas modernos – há em sua obra uma tendência à linguagem elevada, sempre carregada de musicalidade. A música, algumas vezes, parece ser mais importante que o próprio sentido dos versos. Também a exemplo dos simbolistas, as palavras para a autora mais sugerem do que descrevem. Daí a força das impressões sensoriais em seus poemas: imagens visuais e auditivas sucedem-se a todo momento:O rumor de suas penasera um rumor de fontesbrancas em tardes morenas.Ressalte-se que certas palavras que aparecem continuamente em seus versos, tais como música, areia, espuma, lua e vento, acabam, por sua repetição obsessiva, adquirindo uma dimensão metafórica. Simbolizam o efêmero, aquilo que passa (em geral, os sentimentos do eu-lírico). Opõem-se, por exemplo, à palavra mar, que é a grande metáfora daquilo que permanece (em geral, o sofrimento).
A TEMÁTICA
Igualmente no plano dos assuntos, a poesia de Cecília Meireles revela ligações com várias estéticas tradicionais, especialmente o Simbolismo. Entre os seus motivos dominantes figuram:- O registro de estados de ânimo vagos e quase incorpóreos. Neles predomina uma difusa melancolia e uma noção de perda amorosa, abandono e solidão.- Uma aguda consciência da passagem do tempo, da brevidade enganosa de todas as coisas, sobremodo dos sentimentos.A atmosfera de dor existencial que emana dos poemas de Cecília Meireles é centrada na percepção de que tudo passa e de que o fluir do tempo dissolve as ilusões e os amores, o corpo e mesmo a memória. Um exemplo desta visão sofrida é Retrato:.Eu não tinha este rosto de hoje,assim calmo, assim triste, assim magro,nem estes olhos tão vazios,nem o lábio tão amargo.Eu não tinha estas mãos sem força,tão paradas e frias e mortas;eu não tinha este coraçãoque nem se mostra.Eu não dei por conta esta mudança,tão simples, tão certa e fácil:Em que espelho ficou perdidaa minha face?
O crítico Flávio Loureiro Chaves anotou que a poesia de Cecília Meireles vive “engolfada na torrente do tempo”, em meio a uma grande angústia, imersa num “deserto opaco”, sem passado e sem futuro. “Não há passado / nem há futuro. / Tudo que abarco / se faz presente” – diz a poeta. Sua experiência é, portanto, uma experiência do vazio, já que ela não encontra possibilidade de comunicação com o mundo circundante. Nisto residiria o vínculo da autora com a modernidade estética, já que esta tem entre suas características ideológicas as sensações do absurdo e da falta de sentido da vida contemporânea.Diante da “navegação sem estrelas”, que é a trajetória humana, resta à Cecília apenas o canto, isto é, a celebração do ato de criação poética, único enfrentamento da artista contra um universo despossuído de significado. Observe-se o poema ACEITAÇÃO:
Postado por Mariana Martins às 13:51 22 comentários
domingo, 30 de agosto de 2009
Postado por Rafael. Barreto. às 07:38 2 comentários
Frases.
"Há pessoas que nos falam e nem as escutamos, há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam mas há pessoas que simplesmente aparecem em nossas vidas e nos marcam para sempre."
Cecília Meireles
"Aprendi com as Primaveras a me deixar cortar para poder voltar sempre inteira."
Cecília Meireles
"Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda."
Cecília Meireles
Postado por Rafael. Barreto. às 07:25 0 comentários
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Postado por Lívia Furtado às 18:01 0 comentários
Meu Sonho
Parei as águas do meu sonho
para teu rosto se mirar.
Mas só a sombra dos meus olhos
ficou por cima, a procurar...
Os pássaros da madrugada
não têm coragem de cantar,
vendo o meu sonho interminável
e a esperança do meu olhar.
Procurei-te em vão pela terra,
perto do céu, por sobre o mar.
Se não chegas nem pelo sonho,
por que insisto em te imaginar?
Quando vierem fechar meus olhos,
talvez não se deixem fechar.
Talvez pensem que o tempo volta,
e que vens, se o tempo voltar.
Postado por Grupo Poesia de Cecília às 09:11 0 comentários
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Biografia
Filha de Carlos Alberto de Carvalho Meireles, funcionário do Banco do Brasil S.A., e de D. Matilde Benevides Meireles, professora municipal, Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu em 7 de novembro de 1901, na Tijuca, Rio de Janeiro. Foi a única sobrevivente dos quatros filhos do casal. O pai faleceu três meses antes do seu nascimento, e sua mãe quando ainda não tinha três anos. Sua avó, D. Jacinta Garcia Benevides, criou-a a partir de então.
Concluiu seus primeiros estudos — curso primário — em 1910, na Escola Estácio de Sá, ocasião em que recebeu de Olavo Bilac, Inspetor Escolar do Rio de Janeiro, medalha de ouro por ter feito todo o curso com "distinção e louvor". Diplomou-se no Curso Normal do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, em 1917, e passou a exercer o magistério primário em escolas oficiais do antigo Distrito Federal.
Casou-se, em 1922, com o pintor português Fernando Correia Dias, com quem teve três filhas: Maria Elvira, Maria Mathilde e Maria Fernanda, esta última artista teatral consagrada. Suas filhas lhe deram cinco netos.
Correia Dias suicidou-se em 1935. Cecília casou-se, em 1940, com o professor e engenheiro agrônomo Heitor Vinícius da Silveira Grilo.
Aposentou-se em 1951, como diretora de escola, porém continuou a trabalhar, como produtora e redatora de programas culturais, na Rádio Ministério da Educação, no Rio de Janeiro (RJ).
Faleceu no Rio de Janeiro a 9 de novembro de 1964, sendo-lhe prestadas grandes homenagens públicas. Seu corpo foi velado no Ministério da Educação e Cultura. Recebeu, ainda em 1964, o Prêmio Jabuti de Poesia, pelo livro "Solombra", concedido pela Câmara Brasileira do Livro.
Postado por Lívia Furtado às 18:24 0 comentários
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Retrato
Cecília Meireles
Eu não tinha esse rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem esse lábio amargo.
Eu não tinha essas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha esse coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?
Postado por Lívia Furtado às 17:16 0 comentários
Modinha
Cecília Meireles
Tuas palavras antigas
Deixei-as todas, deixei-as
Junto com as minhas cantigas,
Desenhadas nas areias.
Tantos sóis e tantas luas
Brilharam sobre essas linhas,
Das cantigas - que eram tuas-
Das palavras - que eram minhas!
O mar, de língua sonora,
Sabe o presente e o passado.
Canta o que é meu, vai-se embora:
Que o resto é pouco e apagado.
Postado por Lívia Furtado às 17:04 0 comentários
sábado, 15 de agosto de 2009
Motivo
Começando o blog com uma das poesias mais conhecidas de Cecília. Obras como essa falam mais que uma dissertação sobre a poeta.
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
Postado por Grupo Poesia de Cecília às 18:42 0 comentários